Apesar de não ter dívidas e gerar lucros significativos, a Silopor, uma empresa estatal portuguesa responsável pela gestão de silos portuários, vive uma situação bizarra, permanecendo em estado de liquidação há 24 anos. Este estado paradoxal impede a empresa de realizar investimentos cruciais, deixando-a em um limbo que ameaça a eficiência e o desenvolvimento futuro do setor de cereais em Portugal.
Fundada em 1986 como um “spin-off” da EPAC (Empresa para Agroalimentação e Cereais), a Silopor herdou instalações vitais como os silos da Trafaria em Almada, do Beato em Lisboa, e de Leixões no Porto, que desempenham um papel fundamental na infraestrutura de abastecimento de cereais do país. A importância destes silos é destacada pelo fato de que eles são responsáveis pelo descarregamento e armazenamento de cerca de 60% dos cereais importados por Portugal.
O dilema começou na década de 1990, quando a Direção Geral da Concorrência da União Europeia ordenou a liquidação da EPAC, e por extensão, da Silopor. Desde então, a empresa tem sido obrigada a operar sob a sombra da liquidação, uma condição que limita severamente sua capacidade de fazer investimentos significativos. Em 2022, a empresa registrou lucros de 3,83 milhões de euros, um aumento de 60,1% em relação a 2021, e ainda assim, as restrições de liquidação impedem-na de expandir ou modernizar suas instalações.
Esta situação não apenas impede a Silopor de aumentar sua capacidade de armazenagem em resposta às necessidades emergentes, como foi evidenciado pelo conflito na Ucrânia, mas também a coloca em uma posição delicada em termos de planejamento a longo prazo. A incapacidade de investir e expandir levanta questões sérias sobre a sustentabilidade futura da empresa e sua capacidade de continuar a desempenhar um papel crítico na segurança alimentar de Portugal.
O futuro da Silopor está agora nas mãos do próximo governo, com a atual administração decidindo deixar decisões significativas, como o lançamento de um novo concurso público, para o próximo executivo. Esta indecisão prolongada apenas adiciona mais incerteza ao destino já complicado de uma empresa que, paradoxalmente, é tanto lucrativa quanto estrategicamente crucial para o país.
A situação da Silopor é um exemplo clássico de como burocracia e política podem emaranhar os destinos de entidades lucrativas, transformando sucessos operacionais em pesadelos administrativos. Com o mandato da comissão liquidatária estendido até 2025, resta esperar para ver se a Silopor finalmente poderá se libertar das amarras da liquidação e florescer plenamente como a gigante que já provou ser.