A atual Secretária de Estado da Mobilidade, Cristina Pinto Dias, está no centro de uma controvérsia após ter recebido uma indemnização de cerca de 80 mil euros pela sua saída da CP – Comboios de Portugal, onde ocupava o cargo de vice-presidente, para assumir uma posição de administradora na Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT). Manuel Queiró, ex-presidente da CP, apontou a falta de uma comunicação formal da transição como um ponto crítico que poderia ter alterado a abordagem à indemnização.
Contrariando as afirmações de Pinto Dias, que assegurou ter informado a CP sobre sua nomeação para a AMT, a polémica surge em torno da legalidade da compensação recebida, tendo em vista os estatutos da AMT que proíbem a manutenção de qualquer vínculo contratual com empresas do setor para assumir o cargo. A adesão de Pinto Dias ao programa de rescisões da CP, destinado prioritariamente a trabalhadores em excesso ou próximos da reforma, foi marcada por questionamentos, especialmente considerando sua idade de 49 anos e 18 anos de serviço na empresa.
Especialistas em Direito do Trabalho consultados classificaram a situação como um abuso, defendendo que Pinto Dias deveria ter renunciado ao cargo na CP sem compensação financeira, dada a incompatibilidade dos cargos. Essa transição financeiramente benéfica para Pinto Dias, que resultou numa remuneração mensal de 13.440 euros na AMT — quase o dobro do salário na CP —, levanta dúvidas sobre a ética e legalidade do processo.
A CP não esclareceu os detalhes da rescisão de Pinto Dias nem as regras do seu programa de rescisões, enquanto Miguel Pinto Luz, atual ministro das Infraestruturas e Habitação, indicou que, apesar da análise governamental, não foram identificadas ilegalidades no pagamento da indemnização. A situação permanece envolta em debates sobre a transparência e a integridade nas movimentações entre entidades públicas e a legalidade das compensações financeiras envolvidas.