A Operação Maestro, conduzida pela Polícia Judiciária (PJ), teve como um dos seus focos Bernardo Ivo Cruz, que na altura ocupava o cargo de Secretário de Estado da Internacionalização no Governo de António Costa. O interesse da PJ em investigar Cruz surgiu após uma escuta de uma conversa telefónica entre o empresário têxtil Manuel Serrão e o próprio Cruz, em outubro de 2022, que levantou suspeitas de possíveis implicações criminais relacionadas com fraudes na obtenção de fundos europeus.
A investigação, que visa desvendar o uso indevido do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) desde 2015, intensificou-se após Serrão ter contactado Nuno Mangas, presidente do Compete 2020, um programa destinado a promover a competitividade e internacionalização da economia portuguesa através de incentivos financeiros.
Embora a PJ tenha avançado com operações de busca, incluindo Mangas entre os visados, o Ministério Público (MP) recusou a realização de buscas a Bernardo Ivo Cruz, alegando falta de evidências diretas da sua intervenção no caso. Esta decisão do MP veio a público através de fontes citadas pelo jornal Expresso.
O caso ganha contornos de complexidade com a ligação de Serrão a fundos europeus, que totalizam 38,9 milhões de euros desde 2015, sob suspeita de criação de estruturas empresariais complexas e uso de documentação falsa para beneficiar indevidamente dos apoios financeiros.
Bernardo Ivo Cruz, por sua vez, afirmou ao Expresso não se recordar da conversa específica com Serrão, mas não se surpreendeu com a possibilidade de tal diálogo ter ocorrido, dada a natureza das suas interações com empresários sobre a transição de fundos do Compete 2020 para o Compete 2030.
Especialistas jurídicos apontam que, apesar de apenas uma condenação judicial definitiva poder suspender os pagamentos às empresas de Serrão, uma “suspensão administrativa” poderia ser aplicada em casos de suspeita criminal, sem necessidade de aguardar por um veredicto judicial.