Numa reviravolta digna de um thriller político, 900 milhões de euros oriundos da conturbada Venezuela encontraram caminho para os cofres do Estado português, desencadeando uma saga financeira sem precedentes. No centro deste enredo, o Novobanco, que, num gesto audacioso, decidiu entregar os fundos venezuelanos à guarda do tribunal, desafiando as intenções de Maduro de enviá-los para a Rússia e de Guaidó para os EUA.
Liechtenstein, Lavagem de Dinheiro e o Pequeno Banco Union
O início desta história remonta a 2019, quando o pacato principado do Liechtenstein se viu abalado por alegações de uma rede de lavagem de dinheiro venezuelano, envolvendo o pequeno banco Union Bank. As investigações revelaram que o Bandes, banco de fomento venezuelano, utilizou uma conta no Novobanco para transferir 160 milhões de euros, supostamente para operações comerciais que serviram de fachada para benefícios pessoais.
A Conexão BES e a Acusação a Ricardo Salgado
As investigações não pararam por aí. O DCIAP, já empenhado em desvendar os mistérios do falido BES, descobriu pagamentos a ex-políticos venezuelanos por vantagens indevidas, culminando na acusação de Ricardo Salgado por corrupção. A Venezuela, conhecida por sua posição elevada nos rankings de corrupção global, viu seus milhões sob escrutínio em Portugal.
O Bloqueio dos Fundos e a Disputa Maduro vs. Guaidó
Com o Novobanco decidindo fechar as contas das empresas públicas venezuelanas em 2019, os procuradores portugueses viram-se obrigados a congelar os fundos, exacerbados pela disputa de poder entre Nicolás Maduro e Juan Guaidó. O resultado? Os fundos venezuelanos permaneceram bloqueados, com o destino dos 900 milhões de euros pendente de decisão judicial.
A Solução Judicial e o Fim de Uma Dor de Cabeça?
A consignação em depósito emergiu como a solução para o dilema do Novobanco, liberando o banco de uma dor de cabeça herdada do BES. Em 2021, o tribunal autorizou o depósito judicial das quantias, marcando o início do fim de uma saga que colocou Portugal no mapa dos conflitos financeiros internacionais.
600 Milhões de Dólares para a Caixa e 350 Milhões de Euros para o IGCP
Cumprindo a decisão do tribunal, o Novobanco transferiu 915,8 milhões de euros para a guarda judicial, com a Caixa Geral de Depósitos e o IGCP a receberem a maior parte dos fundos. Uma manobra que, embora tenha resolvido o impasse imediato, abriu as portas para novas disputas e reivindicações contra a Venezuela em solo português.
Portugal: O Novo Cofre-Forte dos Milhões Venezuelanos
No final, os 900 milhões de euros venezuelanos, agora sob a égide do Estado português, simbolizam mais do que uma mera transação financeira. Representam um capítulo intrigante nas relações internacionais, onde Portugal se viu inadvertidamente transformado no cofre-forte de uma das nações mais polarizadas do mundo.